quinta-feira, 6 de março de 2008

Prefácio de Carlos Castro


Subir, subir, não custa nada…

Pois é. O Flávio Furtado desafia-me para uma entrada sabida, neste seu livro sobre… alpinistas. Na verdade, desde há muito tempo que me passam ao lado aqueles que sobem, sobem, como que a fazer jus à cantiga da Manuela Bravo… Só que muitos deles, com a pressa da subida, escorregam a todo o momento. Mais cedo ou mais tarde, tropeçam e caiem desastradamente. Não sei se chegam sequer a ter os tais 15 minutos de fama.

Este livro é para ser lido e soltar uma vibrante gargalhada. O autor escreve-o sem meias tintas e chama os bois pelos nomes. De fio a pavio. De uma só penada retira a maquilhagem acentuada de uns tantos que, pela força da ambição do querer aparecer, pensam que é só “meia bola e força”, e já está! No fundo, deixa algumas caraças a descoberto neste faz de conta constante da vida social (rosa chique ou rosa choque) do País que somos.

O certo é que o tal de jet-set de que se fala não existe. Eu sempre o disse. Há gente bonita, simpática, elegante, muitos até com valores morais a defender, que sempre prezei e continuo a estimar. Assinalando-os, até. É gente de fino porte que trabalha e não tem nada a esconder. Como a maior parte dos artistas nobres deste país. O jet-set nacional são os ricos e poderosos, que são muito poucos. Não andam em bicos de pés pelas festas de toda a hora, nem aparecem nas revistas ditas sociais. A privacidade das suas vidas é um dado adquirido. Nunca se misturam.

Dos alpinistas agora falados, sempre os vi. Muitos vão atrelados às festas com mulheres bonitas, conhecidas da televisão ou da moda, parece bem que sejam íntimos, soltar gargalhada fácil, conversa de boca no ouvido, dá a ideia de que existe cumplicidade/intimidade e está ali perto o fotógrafo que dispara um click, e já temos notícia, dizem eles, coitados. Estes alpinistas chegam ao cúmulo de criar histórias a seu bel-prazer sobre as suas pobres vidas, levando a que certa imprensa rosa esteja no sítio certo para apanhar os pseudo incautos até… de calças na mão! Coisas do tempo que passa. Mas o pior não é a loucura de ser famoso a qualquer preço. Há quem invente, faça de tudo um pouco, dizem eles, só para levar o recado da sua banha da cobra já gasta, mas ainda utilizada por quem dá cobro a tanto desmando. Pobres tristes coitados, que no meio de tanto disparate e na parvónia em que se vive, não sabem sequer do mundo existente: das viagens, das culturas, da arte e do espectáculo variado e a ser visto. Dando-lhes um outro mergulho na vida.

Vera Lagoa foi, para mim, todos o sabem, a senhora e dona de um jornalismo de costumes, que só ela sabia fazer. Numa altura em que havia muitas amarras, em que o lápis azul pontificava nas redacções. Aprendi muito com a sua tenacidade a forma como se revelou. Com a sua voz, ela desancou brilhantemente todos os alpinistas de ocasião, não os deixando passar a barreira. Nos Estados Unidos, três mulheres desafiaram o sistema e cada uma delas, a seu modo, com defeitos e virtudes, fizeram com que os tais alpinistas de ocasião não chegassem sequer à linha de partida. Foram a Hedda Hopper, a Elsa Maxwell e a Louella Parsons. Únicas.

Por cá, eles sobem, sobem, e nem se dão conta do que é ter força ou valentia para estar com os pés assentes na terra. Como diz o brasileiro “Só é brega quem se entrega antecipadamente. Chique não é valentão, é ser valente”. Isto de subir não custa mesmo nada. O pior é quando resvalam pelas escadas abaixo. E parafraseando o Flávio, estes alpinistas nem às montanhas chegavam. É triste, mas é a realidade. Enquanto houver quem se venda por coisa de nada, o trepa, trepa, irá continuar. Nem que seja para ser alpinista na rampa lá da rua onde vive…

Carlos Castro
(Jornalista/Cronista de costumes)

2 comentários:

Amélia Grimaldi disse...

Tinah de vir a menção à Vera Lagoa, essa grande senhora do cronismo social..., essa mesma senhora que, quando estava casada com um revolucionário de esquerda em plena ditadura, era a grande senhora dos poetas e dos ideólogos. Depois botou tudo num livro, dizendo que o Ary dos Santos foi preso por falatios a uma alemão em pleno Cais do Sodré e coisas afins.
Percebe-se, assim, o que é o "chic e o choque"...

Anónimo disse...

It´s Amélia, bitch!